Chrysopoeia Talks: Literatura Argentina com Fábio Adiron

No segundo episódio do Chrysopoeia Talks, Gab Piumbato recebe Fábio Adiron para discutir a rica literatura argentina. Descubra insights valiosos e conversas que se transformam em ouro.

Gab Piumbato e Ruby Luxford

1/23/20255 min read

Introdução

A literatura argentina é um universo fascinante. Seus autores, temas e abordagens moldaram não apenas a identidade do país, mas também conquistaram um lugar de destaque no cenário literário global. Durante o segundo episódio do Crisopoeia Talks, Fábio Adiron, apaixonado por literatura e cultura argentina, guiou-nos por um passeio memorável através dos labirintos dessa ficção, explorando autores como Jorge Luis Borges, Júlio Cortázar e outros gigantes da escrita.

Neste post, vamos desvendar o que torna a literatura argentina tão rica e única. Dos seus ícones culturais, como Borges e Cortázar, às livrarias encantadoras de Buenos Aires, passando pela força das mulheres escritoras e a profundidade política das narrativas, prepare-se para uma imersão na ficção argentina.

1. Quem é Fábio Adiron?

Fábio Adiron é um profissional de marketing com uma longa carreira como consultor, professor e escritor. Mas o que realmente o destaca é sua curiosidade insaciável e seu amor pela literatura argentina. Desde a década de 1970, quando teve seu primeiro contato com o livro "Ficções", de Jorge Luis Borges, Adiron embarcou em uma jornada de leitura que atravessou décadas e continentes.

Além de ser um leitor voraz de Borges, Cortázar e outros escritores argentinos, Adiron é também um dançarino de tango apaixonado. Desde 2009, ele dedica-se à dança como forma de expressão cultural e conexão com suas raízes argentinas, que se intensificaram após se casar com uma argentina em 2014.

Adiron também é autor de diversos livros, como "Espelhos Ilógicos" e "O dragão da inteligência artificial contra o guerreiro da desinteligência natural", e seus textos frequentemente exploram a complexidade do pensamento e das narrativas. Sua visão única combina sua experiência de vida com uma análise profunda das artes e da cultura.

2. O Fascínio pelos Labirintos da Literatura Argentina

Poucos escritores representam tão bem a complexidade e a originalidade da literatura argentina como Jorge Luis Borges. Conhecido por suas obras densas e metafísicas, Borges tornou-se um ícone por explorar temas como labirintos, espelhos e sonhos. No conto "A Biblioteca de Babel", por exemplo, ele transforma a própria ideia de conhecimento em um espaço físico labiríntico e infinito.

Fábio Adiron destaca como Borges não apenas escreveu sobre labirintos enquanto espaços físicos, mas também transformou sua escrita em um próprio "labirinto literário". Seus textos muitas vezes exigem do leitor uma atenção minuciosa para compreender as múltiplas camadas de significado. É como entrar em uma biblioteca infinita onde cada prateleira esconde uma nova interpretação.

Se você é fã de literatura que desafia a mente e brinca com a noção de realidade, Borges é leitura obrigatória.

3. Gerações Literárias e os Grandes Nomes da Argentina

A literatura argentina é marcada por diferentes gerações, cada uma delas influenciada por contextos históricos, políticos e culturais. No século XIX, escritores como Hilário Ascasubi e José Hernández começaram a construir as bases da literatura nacional, destacando a figura mítica do gaucho, um símbolo da identidade argentina.

Com a chegada do modernismo, figuras como Leopoldo Lugones e Ricardo Güiraldes introduziram novas técnicas narrativas e aprofundaram os temas locais. Já no século XX, surgiram os grandes nomes que hoje definem a literatura argentina globalmente: Jorge Luis Borges, Júlio Cortázar, Adolfo Bioy Casares e Ernesto Sábato.

Destaque especial para Júlio Cortázar, cujo romance "O Jogo da Amarelinha" revolucionou a narrativa ao permitir diferentes formas de leitura. Como menciona Adiron, Cortázar criou uma experiência literária surrealista, um convite para que o leitor construa sua própria jornada através do texto.

4. O Papel das Mulheres na Literatura Argentina

Embora os nomes masculinos dominem a história da literatura argentina, as mulheres desempenharam e ainda desempenham um papel fundamental. No século XX, Alfonsina Storni destacou-se como a primeira grande poeta argentina, enquanto Silvina Ocampo se tornou um ícone da narrativa fantástica.

Mais recentemente, escritoras como Mariana Enriquez, Claudia Piñeiro e Agustina Bazterrica vêm ganhando espaço com narrativas marcantes. Enriquez, em particular, impressiona com seus contos de horror urbano, que mergulham nos aspectos mais sombrios da vida cotidiana. Adiron chama atenção para o fato de que seus textos são tão viscerais que parecem transportar o leitor para dentro da cena, exigindo estômago para lidar com a intensidade de suas descrições.

5. Livrarias, Sebos e Bibliotecas: O Paraíso Literário de Buenos Aires

Nenhuma viagem à Argentina estaria completa sem explorar as livrarias e bibliotecas de Buenos Aires. A capital argentina é frequentemente chamada de "o paraíso dos leitores", graças à abundância de espaços dedicados à literatura.

Fábio Adiron recomenda visitar a Biblioteca da Legislatura, considerada uma das mais bonitas da cidade, e o sebo El Incunable, próximo à Praça Vicente López. Segundo ele, em Buenos Aires, é comum encontrar diversas livrarias em uma única rua, refletindo a paixão do país pela leitura.

Diferente do Brasil, onde muitos livros estão selados em plástico nas prateleiras, as livrarias argentinas incentivam o manuseio das obras, tornando a experiência ainda mais acolhedora.

6. O Tango e a Literatura: Um Diálogo Cultural

Não há como falar da Argentina sem mencionar o tango, e Fábio Adiron é um grande apaixonado pelo gênero. Ele compartilha como começou a dançar tango em 2009 e como a música e a dança estão profundamente ligadas à cultura literária do país.

As letras de tango, muitas vezes poéticas, funcionam como narrativas curtas que exploram temas de amor, perda e saudade. Assim como na literatura, o tango expressa a complexidade emocional e cultural da Argentina, criando um diálogo único entre as artes.

7. A Ficção Paranoica de Ricardo Piglia e os Contextos Políticos

Ricardo Piglia, um dos grandes nomes da literatura contemporânea argentina, explora a relação entre ficção e realidade em seus escritos. Fábio Adiron destaca como o conceito de "ficção paranoica" proposto por Piglia revela as histórias ocultas por trás dos discursos oficiais.

Durante os períodos de censura e ditadura na Argentina, escritores como Rodolfo Walsh usaram a literatura para criticar o regime, muitas vezes de maneira sutil e metafórica. No conto "Essa Mulher", por exemplo, Walsh nunca menciona diretamente o nome de Eva Perón, mas a figura dela é imediatamente reconhecível, mostrando a habilidade do autor em usar a sutileza para escapar da censura e, ao mesmo tempo, transmitir sua mensagem.

8. A Atualidade Literária Argentina: O que Ler Hoje?

Embora a literatura argentina seja marcada por nomes históricos, há uma nova geração de autores que merece destaque. Além de Mariana Enriquez, Claudia Piñeiro e Agustina Bazterrica, vale a pena explorar os trabalhos de Selva Almada e Alberto Laiseca, que continuam a tradição de narrativas poderosas e reflexivas.

Para quem quer começar, aqui estão algumas sugestões:

  • "Ficções" (Jorge Luis Borges) – Uma coletânea essencial para qualquer amante da literatura.

  • "O Jogo da Amarelinha" (Júlio Cortázar) – Um marco do surrealismo literário.

  • "Os Perigos de Fumar na Cama" (Mariana Enriquez) – Uma obra contemporânea que redefine o horror urbano.

  • "O túnel" (Ernesto Sábato) – Uma das narrativas mais emblemáticas do século XX.

Conclusão

A literatura argentina é um convite ao desconhecido. Entre os labirintos de Borges, o surrealismo de Cortázar e a intensidade dos autores contemporâneos, ela oferece algo para todos os leitores – seja um mergulho profundo em questões filosóficas ou uma imersão em histórias de horror visceral.

Como Fábio Adiron destacou, explorar a literatura de outros países é uma forma de enriquecer a mente e a alma. E, na Argentina, isso vai além dos livros: está nas livrarias, nas ruas de Buenos Aires e até mesmo no som do tango.

Se você ainda não conhece os gigantes da ficção argentina, este é o momento de embarcar nessa jornada. Como Borges dizia, "sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca". Na Argentina, o paraíso está mais próximo do que você imagina.

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Este post foi escrito em colaboração com Ruby Luxford, Chief Architect of Abundance at Alquimia das Palavras